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Claymore é a adaptação serializada que mais me impressionou no quesito aspecto técnico até hoje. O anime é lindo, a animação é soberba. Basicamente é como se você assistisse a um Wonderful Days, Kenshin OVA ou Mononoke Hime em 26 episódios. Diferente, entretanto, de outros seriados notáveis no aspecto técnico, como Soul Taker, Claymore tem mais, muito mais a oferecer. O aspecto técnico está aqui a serviço do roteiro, não o contrário.
Bom, findada a questão técnica e você sabendo que o deslumbre áudio/visual e a introspecção que isso provoca estão garantidas, saiba que Claymore é baseado em um mangá de Norihiro Yagi (o qual, a título de curiosidade, gosta da banda de heavy metal brasileira Angra), veterano que contava com uma excelente obra humorística, já com quase dez anos de publicação: Angel Densetsu. Publicado desde 2001, a arte do mangá, por mais absurdo que pareça, consegue ser em dados momentos mais impactante que a do anime (e acredite, isso é impressionante). Além disso, Claymore guarda semelhanças extensas com outra obra muito querida do público fã de mangás de fantasia, Berserk.
Que semelhanças são essas? O design dos monstros e sua opulência, o fato de a personagem principal perder um braço e o substituir com uma ”arma“, o clima opressivo, o tipo de companheirismo entre a protagonista e seu ”bando“. Mas, espera aí, isso não seria plágio? Não, são homenagens. A história de Claymore é boa e forte o bastante para se sustentar por si só, sem sombra alguma de dúvida.
Claymores são mulheres que receberam em seu corpo entranhas/sangue de yomas, demônios que assolam e devoram a população desde tempos imemoriais (o nome é dado pelos populares, já que elas carregam gigantescas espadas do tipo claymore). São as únicas capazes de distinguir um yoma disfarçado de humano de um homem comum, devido à habilidade que possuem de sentir o youki, energia maligna que emana de um yoma, e usar seu próprio youki para ganhar força e agilidade sobre-humana. Dentro da sua organização, são treinadas desde novas para o desapego, e obedecem sem questionar muito. As garotas são escolhidas ou acolhidas por essa organização entre órfãos e outras vítimas de situações variadas. A vida de uma Claymore é uma luta constante para não despertar, já que sendo metade yoma, caso usem o poder em demasia, podem acabar se transformando completamente. Quando elas pressentem que tal fato está próximo de ocorrer, enviam uma ”carta negra“ para outra companheira, para que essa dê cabo de sua vida. Devido a essa razão, a carreira de uma Claymore sempre é curta, durando poucos anos, se não tombar antes em batalha.
A série revolve em torno de Clare, uma Claymore que chega em uma cidade e é hostilizada (todas as Claymores são objeto de temor do povo, já que além de serem meio yomas, cobram quantias altíssimas para livrar a população dos predadores, valores transferidos para os cofres da organização). Uma vez lá, conhece o jovem Raki, que perdeu seus pais para o yoma que atacou a cidade. O garoto ganha a simpatia de Clare, uma vez que não demonstra temor em relação a ela. Após a morte do alvo, Raki é expulso da cidade e Clare termina acolhendo-o. Os dois saem então numa jornada, ação aparentemente ilógica da parte dela (sair carregando por aí um humano normal, incapaz de se defender de um yoma, sendo ela uma Claymore).
Revelar mais que isso estragaria o prazer de descobrir o que vem depois. Muitos mistérios são adicionados no decorrer da série, mas perguntas como "porque apenas Claymores femininas" e "o que é essa ”organização“ e quais suas intenções" serão feitas quase de imediato e, dada à qualidade da pena do autor, sinalizam respostas surpreendentes.
O roteiro cresce exponencialmente. Personagens com carisma colossal são adicionados, e já a partir do oitavo episódio fica impossível abandonar a série. A dramaticidade das situações é opressiva, e a direção é impecável (a série é bastante fiel ao mangá, mas melhora e apara arestas deste, tornando a experiência ainda mais recompensadora). Episódios como o 12, 19 e 22 são tão intensos que ficam marcados a fogo na mente.
Então, Claymore é perfeito? Quase. Confesso que acreditava, tendo visto até o episódio 23, que esta seria digna de um 100% com louvores. Mas uma semelhança que ela divide com Berserk e a maneira como os produtores do anime resolveram encarar isso eliminou essa possibilidade. Claymore é um mangá ainda em publicação. E assim como na obra de Kentaro Miura, o que se vê no anime é apenas a ponta do iceberg (e que iceberg!).
Diferente de Berserk, no entanto, a equipe de Claymore resolveu criar um final alternativo. Arriscando meu pescoço aqui, digo que preferia um final na linha da série de Berserk também, ou seja, um ”não final“. Para nós em terras tupiniquins, na época em que Berserk foi lançado, o acesso a scans do mangá era bem mais difícil, hoje já não causa tanto desespero um final dessa natureza, você pode facilmente continuar acompanhando a história pelo mangá (não que se essa situação desfavorável perdurasse, minha opinião fosse mudar). Um final aberto evitaria o desvirtuamento de uma das personagens ou soluções forçadas apenas para fechar o anime. Até o episódio 22, entretanto, é 100% com toda certeza.
Um anime ímpar, raro, que todo fã de fantasia estava esperando para ver há um bom tempo, com personagens construídos em várias camadas, absolutamente coerentes e apaixonantes, de dramas tocantes e conflitos tensos que afetam o espectador de maneira inesperada. Tardaram para nos oferecer algo assim, mas definitivamente não falharam. |
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