É impossível começar a falar de Gankutsuou, sem mencionar a clássica obra da literatura, escrita por Alexandre Dumas, que o inspira. Obra essa conhecida como "O Conde de Monte Cristo" e que é, indubitavelmente um dos livros mais conhecidos da literatura universal. Essa obra-prima de Dumas, que se passa na França medieval, narra a história de um homem em busca de vingança, tomado pelo ódio que domina todo o seu corpo e alma, cuja vida só tem um sentido: destruir todos que foram responsáveis pela destruição de seus sonhos quando ainda jovem, e pelo sofrimento causado por uma prisão injusta e covarde.
A partir dessa consagrada premissa, o elogiadíssimo diretor Mahiro Maeda (Second Renaissance -OVA- e Final Fantasy: Unlimited), ao lado dos profissionais excepcionais do maravilhoso estúdio Gonzo Digimation, reescreve a obra de Alexandre Dumas para um período futurista (aqui, o período já ultrapassa o ano 5.000 d.C), de forma sublime, magistral e, como de costume em obras do Gonzo, com uma "pitadinha" de originalidade no roteiro (em outras palavras: modifica a obra de Dumas, cria personagens que, no livro, não existem).
Albert de Morcerf e seu grande amigo Franz d'Epinay saem em viagem pelo interior da França quando, "acidentalmente", esbarram em um sujeito misterioso. Tomado pelo tom sinistro e cativante do homem que acabaram de conhecer, os jovens amigos vão à procura de informações, e acabam por descobrir que esse indivíduo misterioso é conhecido como "O Conde de Monte Cristo", o qual, com o seu tom sedutor, logo seduz os jovens rapazes, em especial Albert.
Albert fica totalmente encantado pelo conde e, sem hesitar, logo o convida para conhecer seu pai (Fernand de Morcerf) e sua mãe (Mercédès de Morcerf), em Paris. O conde aceita.
É a partir daí que toda a história de Gankutsuou se desenrola, apresentando personagens realmente cativantes, como a meiga e bela Eugénie de Danglars (mulher pela qual Albert é apaixonado, mas que parece não entender tal sentimento), a sofredora e romântica Valentine de Villefort, a qual está prometida para o grande amigo de Albert, Franz. Os inescrupulosos Fernand de Morcerf, Edouard de Villefort e Baron Danglars. O idealista Maximilien Morrel, que apesar de sua classe social relativamente baixa, não vai desistir de brigar pelo amor de Valentine, cujo pai (Edouard de Villefort) quer que se case com o milionário Franz.
Mas quem realmente brilha no anime são os 2 personagens principais, Albert e "O Conde de Monte Cristo". O primeiro, com a sua sensibilidade aflorada para a sua idade (na série, ele tem 15 anos), sempre verossímil com os seus sentimentos, idealista e, até certo ponto, um "inocente romântico". Já com "O Conde", a Gonzo cria um dos personagens mais "conquistadores" dos últimos tempos. Não há como não se apegar a ele, o tom cativante que esse personagem possui é fora de série: por vezes sarcástico, por ora romântico. O Conde esconde personalidades assustadoras, as quais, com o passar da série, descobrimos (e nos assustamos) mas, mesmo assim, é um personagem que você levará na mente por um longo tempo.
Com um dos roteiros mais fantásticos/alucinantes/dramáticos feito nos últimos anos, Gankutsuou narra de forma magnífica a história de um homem tomado pelo ódio que, para se livrar da prisão, na qual não agüentava mais viver, faz um pacto com o "espírito" Gankutsuou (O Conde de Monte Cristo), que lhe dará toda a sabedoria e dinheiro, em troca do seu corpo e alma, dominados pelo ódio e rancor. Esse homem não é ninguém menos que Edmond Dantes (que pensava ser o melhor amigo de Fernand de Morcerf, pai de Albert), o qual irá se vingar de todos os traidores. Depois de possuído pelo "Gankutsuou", Dantes não tem piedade ou misericórdia de ninguém, nem mesmo da única mulher que um dia realmente amou. O roteiro fôra escrito de forma tão sublime que é impossível ficar cansado ou irritado com algum episódio, todos estão praticamente no mesmo nível, e mostra todo o talento da roteirista Natsuko Takahashi que, com uma ajuda incontável de Tomohiro Yamashita, faz aqui uma história que para sempre será lembrada. Afinal, reescrever de forma tão maravilhosa uma das obras mais aclamadas da literatura, em versão futurista, definitivamente não é para qualquer um.
Chegamos na parte mais extraordinária desse magnífico anime: a animação e a direção de arte. Gankutsuou elevou ambas para um novo patamar. A animação é de uma originalidade sem precedentes. Em vários momentos, as roupas dos personagens chegam a refletir as luzes do ambiente, fantástico. A direção de arte merece todas as "rasgações de seda", nunca vi uma série para a TV com uma direção de arte tão soberba, tão inefável quanto essa. Os diretores de arte da série, You Sasaki e Yusuke Takeda, não apenas retratam a França futurista de forma sublime, mas criam jogos de luzes e sombras nunca vistos antes em uma série de TV. Ah, vale lembrar da belíssima parte sonora do anime, com uma abertura inovadora (e melancólica) e uma trilha instrumental triste e dolorida que só vem a somar para a série.
Com episódios finais misturando, de forma estupenda, ódio, dor, melancolia, tristeza, paixão e esperança, "Gankutsuou", é um anime imperdível. Ah, a cena do episódio 18, na qual 2 "mechas" lutam entre si (sim, tem "mechas"!), é uma das mais dramáticas e doloridas cenas dos últimos anos. O final do anime é uma verdadeira homenagem (merecidíssima) a toda a equipe que trabalhou arduamente para fazer essa obra de arte da animação japonesa.
Só temos que bater palmas para toda a equipe do Gonzo que, mais uma vez, faz um anime para ficar na história da animação japonesa e por conseqüência, mundial.
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